Ordem presidencial para atirar em quem descumprir isolamento preocupa brasileiro retido nas Filipinas

A declaração do presidente da Filipinas, Rodrigo Duterte, de que autorizou as forças de segurança a atirar em quem perturbar as regras de confinamento impostas por causa da pandemia de Covid-19 provocou ainda mais preocupação em um turista do Rio de Janeiro que não conseguiu deixar o país.

“Se o presidente está dando aval para militar disparar contra alguém que está descumprindo uma ordem, eu prefiro não pagar pra ver. Eu me sinto mal, porque nunca passei por uma situação desse tipo. Não sei o que esperar. A gente fica com medo”, disse ao G1 o brasileiro que pediu para não ser identificado.

O país já registrou mais de 90 mortes e 2,3 mil casos de Covid-19, praticamente todos nas últimas três semanas.

Atualmente, quase metade da população do arquipélago de 110 milhões de habitantes está em isolamento. Praticamente todas as atividades sociais, religiosas e comerciais estão suspensas. Como milhões vivem em condições de extrema pobreza e sem trabalho, a situação se torna mais dramática.

Duterte é conhecido pelas declarações polêmicas e também pela violenta política contra as drogas, que já deixou milhares de mortos e órfãos. As forças de segurança e atiradores desconhecidos são acusados de matarem deliberadamente mais de 7 mil suspeitos de usar ou vender drogas.

Desde o dia 20 de março, um carro da polícia passa nas ruas às 20h com um megafone anunciando que as pessoas devem se recolher. “A sirene da polícia já é meio macabra. Com essa notícia do presidente ficou ainda mais. Claro que não vou permitir que ele me veja caminhando na rua”, afirmou o brasileiro.

De acordo com o Itamaraty, mais de 100 viajantes brasileiros entraram em contato com a Embaixada do Brasil em Manila desde o início da quarentena nas Filipinas, em 16 de março. No total, 75 brasileiros deixaram as Filipinas e 29 permaneceram no arquipélago formado por mais de 7 mil ilhas.

Depois que o governo estabeleceu novas regras de isolamento, eles não têm muitas perspectivas de deixar o país. Enfrentam os mesmos problemas de turistas que estão em outros países: tarifas altíssimas e, quando encontram voos, ainda estão suscetíveis a cancelamentos sucessivos.

Enquanto os brasileiros que estão na Tailândia receberam a sinalização de que existem planos para que um voo os traga de volta, quem está nas Filipinas lamenta não ter ajuda para chegar até Bangcoc e se beneficiar dessa alternativa.

“Entre os brasileiros, não tem ninguém passando fome, dormindo em aeroporto. Nossa questão é que o dinheiro está acabando, está sendo gasto em hospedagem. Numa situação dessas vão atravessar o mundo [pra buscar quem está na Tailândia] e para a gente está aqui do lado não vão poder fazer nada? Estamos ficando para trás”, desabafou.

“Todas as alternativas estão sendo estudadas e o Itamaraty continuará trabalhando, sem interrupção, para assegurar a volta ao Brasil de todos os nacionais retidos no exterior em decorrência da pandemia, no prazo mais curto possível”, disse em nota o Ministério das Relações Exteriores, que acrescentou que pode, em alguns casos, ajudar aqueles que não têm mais dinheiro para se manter.

O carioca disse estar em contato com a representação diplomática brasileira em Manila e que até o momento não teriam uma proposta de auxílio para o grupo chegar até a Tailândia e, eventualmente, se beneficiar do voo que levará os brasileiros para casa.

“A única ideia que um funcionário nos deu foi de fretar um avião até Bangcoc, o que sairia algo em torno de R$ 20 mil por cabeça. Eu não tenho esse dinheiro”, conta.

O brasileiro também acredita que até chegar à capital filipina nesse momento não é possível sem ajuda da representação diplomática.

Enquanto isso, o brasileiro vê os amigos voltarem para casa. “Quando cheguei isso aqui estava cheio de turistas. Agora somos poucos. Fico sozinho no meu bangalô. Tem só um quintalzinho para arejar a mente. Para a rua eu não saio.”

Ele pede ajuda para a funcionária que cuida dos conjuntos de bangalôs, onde atualmente ele é o único hóspede.

“Ela busca para mim, mas não é tudo que consegue comprar. Não tenho frutas, por exemplo. Outro dia ela me trouxe uma maçã e uma laranja. Estou comendo mais ovo do que já comi a minha vida inteira. Eu só queria ter a previsão de algo mais concreto.”