Mercosul e União Europeia: por que Macron travou acordo entre os blocos

Por g1

Em dezembro do ano passado, Emmanuel Macron, presidente da França, disse, na COP 28, ser contra o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, para ele “antiquado” e “mal remendado”.

Agora, pouco mais de um mês depois, Macron pediu à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que o bloco europeu desista das tratativas com o bloco sul-americano.

Para Oliver Stuenkel, professor de relações internacional da FGV-SP, “todo mundo concorda que é muito pouco provável que este acordo seja ratificado”.

“A princípio, a última janela de oportunidade para negociar esse acordo foi no ano passado, quando a Espanha tinha a presidência da União Europeia, e o Brasil a presidência do Mercosul. E, para muitos, aquilo era o último momento, porque vão acontecer eleições parlamentares do parlamento europeu e este ano provavelmente será um parlamento menos propenso a aceitar grandes acordos comerciais”, disse ele.

“Sem o apoio da França ou sem anuência da França, me parece muito pouco provável que este acordo que está sendo negociado há mais de 20 anos possa prosperar”, complementou Oliver em entrevista ao podcast O Assunto desta quarta-feira (31).

 

Um acordo entre Mercosul e União Europeia é negociado desde 1999. Em 2019, foi concluída a primeira etapa das conversas. Desde então, os termos passaram à fase de revisão, o que ainda não terminou. Além disso, exigências adicionais das partes têm adiado a conclusão.

“O que o Macron agora está fazendo é querendo encerrar esse assunto de uma vez por todas por motivos políticos internos. O acordo não é popular na França e mesmo com o fracasso das negociações, basicamente ele quer agora sinalizar para os eleitores que ele, de uma vez por todas, quer encerrar esse assunto.”

 

Emmanuel Macron durante evento de líderes da União Europeia em 15 de dezembro de 2023 — Foto: Johanna Geron/REUTERS

Emmanuel Macron durante evento de líderes da União Europeia em 15 de dezembro de 2023 — Foto: Johanna Geron/REUTERS

Os motivos do presidente francês, como explica Oliver, passam desde o momento de fragilidade dele no país, ao que ele pensa sobre a posição da Europa.

“O Macron está muito fragilizado, está numa fase em que dificilmente conseguirá implementar grandes reformas. […] O acordo não é popular entre os franceses. Há uma preocupação de que a ratificação poderia ameaçar a agricultura francesa, o que é verdade. A agricultura francesa não é competitiva, então isso seria uma péssima notícia para os agricultores que estão muito presentes no discurso ou no debate político francês.”

Oliver também aponta outra questão. Diferentemente da Alemanha, que ao longo das últimas décadas fez apostas no comércio internacional, Macron tem uma visão diferente para o continente.

“Ele acha que a Europa precisa ser mais independente, não pode depender de outros blocos. Ele pensa em futuras crises, numa outra pandemia, então ele sempre diz que a Europa não pode depender de ninguém, precisa ter um projeto autônomo.”

 

Ainda assim, diplomatas brasileiros ouvidos pela GloboNews avaliaram, nesta terça-feira (30), que as negociações pelo acordo comercial entre Mercosul e União Europeia devem continuar “normalmente”