Tite mira recorde de Zagallo trocando vaidade por lealdade

Lealdade e Tite, sinônimos que juntos na frase somam 13 letras. Talvez um sinal. Pois se enfileirar adversários até o título da Copa América, o técnico vai igualar a melhor sequência de um comandante da seleção brasileira desde Zagallo. E aí, não restará opção a não ser “engolir” Tite até a Copa de 2022. Em 1997, o Velho Lobo obteve 14 vitórias consecutivas, recorde na história centenária.

A contagem regressiva começa hoje, 21h, diante da Colômbia, no estádio Nilton Santos. Tite vai atrás da décima vitória do Brasil sob seu comando. O que superaria a sua própria marca, de 2016, exatamente nos primeiros nove jogos com a seleção. É verdade que o técnico completou cinco anos no cargo no último dia 20 ainda sem cair nas graças do público e da crítica, mas completamente integrado ao seu grupo de jogadores e sua comissão. Que permitem que os sonhos em busca da sonhada Copa do Mundo se mantenham vivos.

“Sem personalizar. Não tenho vaidade. Pegar uma equipe montada e fazer uma assinatura maior que o quadro. Tenho orgulho de cada integrante da comissão que faz seu trabalho. Pedi pro cara que corta grama assinar a camisa de cinco anos, todo mundo tem valor. E faço isso com carinho, sem demagogia. Quem me conhece sabe que sou assim”, falou ontem um sanguíneo Tite, como raramente se porta em suas respostas, ao analisar a caminhada até aqui, premiada pelos atletas com uma camisa comemorativa.

Os números que fazem quem é contra ter que engolir o treinador falam por si. São 42 vitórias em 56 jogos, com aproveitamento de 81%.

Em jogos oficiais, o rendimento com Tite é ainda melhor: são 31 partidas, com 26 vitórias, quatro empates e somente uma derrota. No período a Seleção marcou 76 gols (média de 2,4 por jogo) e sofreu nove gols (média de 0,3 por partida).

Astro da seleção e homem de confiança de Tite, o craque Neymar atuou em 37 partidas sob o comando do treinador, com 22 gols e 22 assistências. Ou seja, fez um de cada cinco gols do Brasil, que marcou 123 com o técnico. O grupo como um todo ganha mais corpo no período de treinos e jogos de uma Copa América.

“Oportuniza um tempo grande de treinamento, de contato, de ideias. Falava com o Danilo e ele disse que a linguagem não verbal começa a imperar. Os movimentos, situações, olhar, no campo é tudo dinâmico, rápido. Ficamos mais coesos como grupo e em termos técnicos e táticos desenvolve um melhor trabalho”, valoriza Tite.

O desempenho sofre apenas com a falta de adversários mais difíceis para enfrentar. Mas diante disso, Tite cria as próprias dificuldades para o Brasil tentar se superar. Para seguir sem ser vazada nessa Copa América e não abrir mão dos experimentos, Tite promete novos testes pontuais contra a Colômbia, mantendo a base para não descaracterizar a seleção.

“Nossos enfrentamentos com eles sempre foram muito difíceis. Sempre nos deram o mais alto nível de exigência. Passei isso aos atletas, o respeito a uma grande seleção”.

No gol, Weverton ganha a primeira chance após atuações de Alisson e Ederson. No meio-campo, a principal dúvida. Com a provável chance a Éverton Ribeiro como titular, Gabigol corre risco de sobrar. Outro ponto são os volantes. Após chance a Fabinho ao lado de Fred, Casemiro e Paquetá retornam? Ou Douglas Luiz também terá sua chance?

Classificado com as duas primeiras vitórias, o Brasil tem possibilidades de entrar mesclado e se ajustar na partida, como ocorreu diante do Peru. Tite segue em busca de soluções alternativas e tem dado mais tempo aos atletas que ainda não se firmaram no elenco da seleção para que eles mostrem serviço. Assim, promovendo a competição interna, o técnico sabe que nenhum deles poderá questionar as escolhas tanto de agora mas sobretudo no grupo para 2022.

FonteO Globo/ Diogo Dantas