Um dia após a condenação de Luís Alberto Bastos Barbosa, réu pela morte da musicista Mayara Amaral, de 28 anos, em Campo Grande, o pai falou sobre a pena de 27 anos e dois meses de prisão. O aposentado Alziro Amaral, de 63 anos, ressaltou que “a pena não foi compatível com a atrocidade que ele cometeu”, principalmente pela covardia e consequências do crime, já que o casamento dele com a mãe da vítima, após 33 anos, acabou.
“A Justiça foi feita, não me surpreendeu. É algo que estava dentro do esperado pelo conjunto probatório e o caráter primário do réu. O sentimento não mudou e seria assim se ele fosse liberado ou algo parecido e, somado a isso, a impunidade. A sociedade deu resposta a altura. Mas, ele destruiu a família toda. O casamento acabou, eu fui para psicólogo e a mãe para o psiquiatra, passou a tomar remédios”, afirmou o pai.
Ainda conforme Amaral, a vontade era de que o réu tivesse uma pena maior, com a qualificadora do latrocínio. “Mas, eu preciso muito agradecer o empenho da polícia, lembro que eles ficaram quase 20 horas sem se alimentar, para encontrar o assassino. Nós fizemos o reconhecimento na época, precisamos ir ao Imol [Instituto de Medicina e Odontologia Legal] às 4h e eu reconheci o corpo. É uma imagem horrível, estarrecedora, que não sai da minha cabeça e não permiti que a mãe visse para poupá-la desse sofrimento”, relembrou.
Sobre as lembranças, ela fala, com orgulho, de uma jovem idealizadora. “Ela abraçava um projeto e se dedicava ao máximo. Estava fazendo mestrado, tinha sido aprovada em um concurso para professora e estava começando um pré doutorado em São Paulo. São muitos sonhos, ela amava o que fazia, esse era o diferencial dela, tinha dedicação. Agora, sinto saudade de uma pessoa maravilhosa, iluminada, muito ética, que não tinha coragem nem de zoar os colegas do time contrário, com medo de ofender alguém”, comentou Alziro.
Na época, ele conta que não soube do relacionamento da filha. “Eu ainda estava na ativa, trabalhando muito. A minha carga horária era grande e a gente se via mais no fim de semana e isso aí ela falava para com a mãe. Quando ela sumiu e percebemos o desespero, chegando a conclusão que algo errado tinha acontecido, fomos para a delegacia 11 horas da noite”, finalizou.
Luís Alberto participou de um júri formado por 7 pessoas, sendo 4 mulheres. Foram acatadas as qualificadoras propostas pela acusação: motivo fútil, recurso que dificultou a defesa da vítima, além da ocultação de cadáver e o feminicídio em si. Luis também foi condenado por furto, já que ficou com os pertences da vítima e tentou vendê-los depois de ocultar o corpo.
Na sentença lida pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, os jurados não acataram o argumento da defesa que, com um laudo apontando que o réu é considerado psicopata e estaria sob efeito de drogas, afirmando que não sabia o que estava fazendo.
O advogado de defesa, Conrado Passos, disse que vai recorrer: “É uma pena exacerbada, vamos entrar com recurso para anular esse julgamento”, declara. No início do julgamento, em depoimento, o réu disse que arrependeu-se assim que percebeu que havia “tirado uma vida”.
A mãe de Mayara, Hilda Amaral, comentou ao final do julgamento que a sentença é um alívio: “É um exemplo para a sociedade que está matando, matando, matando as mulheres e ele levou minha filha de uma forma tão brutal. Arrancou um pedaço, um pedaço da gente” declarou, emocionada.
A musicista foi morta com 6 marteladas na cabeça no dia 25 de julho de 2017, em um motel de Campo Grande. O corpo foi encontrado no dia seguinte, carbonizado, em uma estrada vicinal na região conhecida como “Inferninho”.
Dois dias após o crime, outros dois homens também foram presos preventivamente por suspeita de envolvimento na morte de Mayara.