Guerras, não resta dúvida, em termos de crueldade, ultrapassam os limites da razão. Representam a confissão de um fracasso anunciado

A maldade está nas ruas, nas aglomerações de pessoas, nos indivíduos e nos Estados. É o que se depreende por uma rápida leitura dos jornais. Em vez de atenuarmos nossa violência, ao contrário, tendemos a acirrá-la, aperfeiçoá-la com a ciência e a tecnologia, tirar proveito dela. No Alabama, nos Estados Unidos, reinstituindo a pena de morte, as autoridades decidiram sofisticá-la e aumentar o sofrimento da vítima com uma novidade: a hipóxia. Era um tratamento dado a animais na hora de sacrificá-los, mas não sem uma aplicação de anestesia. No caso do Alabama, a ideia consiste em substituir o oxigênio do indivíduo por nitrogênio com o subsequente sufocamento. Uma coisa terrível. Imagina-se a cabeça de um monstro na concepção de semelhante invenção.
A crueldade em nossa época, no entanto, não se detém aí. Sabe-se como as guerras se esmeram em hostilizar, massacrar e sacrificar indivíduos das mais diversas formas. O Oriente Médio e a situação da Palestina saltam aos olhos. Israel não poderia ter chegado a tanto, em suas lutas pela extinção, isto mesmo: extinção, dos palestinos, sem fabricar e preparar o ódio há décadas, até o estágio atual no qual não cede diante de nada. Mulheres, velhos e crianças permanecem na mira de suas pontarias na Faixa de Gaza, em escolas, universidades e hospitais, como se o morticínio houvesse, finalmente, ganho sobre todas as outras considerações de ordem moral.
Guerras, não resta dúvida, em termos de crueldade, ultrapassam os limites da razão. Representam a confissão de um fracasso anunciado, desde as primeiras diatribes, os primeiros projéteis atirados num civil. Levando tais argumentos em consideração, criou-se a Convenção de Genebra para impedir que as violências transbordem. Devíamos reler os textos da Convenção e, se possível aperfeiçoá-los em vez de ignorá-los e entrar na tirania da dor como se fosse uma coisa boa.