Luxa admite rebaixamento e pede desculpa ao torcedor do Vasco: “Me perdoe, me doei ao máximo”

Há uma chance matemática, mas se apegar a ela seria mentir para o torcedor. Foi assim que Vanderlei Luxemburgo admitiu o quarto rebaixamento do Vasco para a Série B após o empate sem gols com o Corinthians, na tarde deste domingo, em São Paulo. Ao elencar problemas do passado, dificuldade técnica do elenco e erros da arbitragem como motivos para a iminente queda no Brasileirão, o treinador pediu desculpa à torcida e se colocou à disposição para ajudar no que definiu como “reconstrução de um gigante”.

Nenhum dirigente falou no pós-jogo vascaíno. Portanto, não se sabe qual será a decisão de gestão de Jorge Salgado quanto à manutenção ou não do treinador. Precisando tirar três pontos e um saldo adverso de 12 gols do Fortaleza, o Vasco encara o Goiás na quinta-feira em São Januário. E ainda tem esperança de que a derrota contra o Internacional seja anulada pela Justiça Desportiva.

– Eu não posso enganar o torcedor: se falar em ganhar do Goiás e fazer 12 gols, estou enganando. Mas há um jogo sub judice (derrota por 2 a 0 para o Internacional). Lá houve um erro gravíssimo. Tanto que o STJD deu um parecer para a CBF mostrar o vídeo e os áudios do VAR na partida. Esse jogo é importante para moralizar o campeonato. Ele manchou o Brasileirão. O juiz e o VAR cometeram erros gravíssimos, o pior foi a não consulta ao VAR – disse o técnico, para completar:

– Não tem como mentir. O Vasco tem que fazer 12 gols, o Brasil tomou de sete e foi um aborto. Não vamos jogar contra uma equipe de várzea. Temos que ser realistas e não passar mentira para o torcedor.

Vanderlei Luxemburgo orienta jogadores do Vasco — Foto: Marcos Ribolli

Vanderlei Luxemburgo orienta jogadores do Vasco — Foto: Marcos Ribolli

Luxa foi contratado como substituto de Ricardo Sá Pinto. Tinha 12 jogos para evitar a queda. Ao final da coletiva, na qual disse ter uma parcela de culpa pela situação, o treinador se dirigiu ao torcedor:

– Queria falar com o torcedor do Vasco da Gama, que tem muito respeito por mim. Lamento muito por não ter conseguindo junto com esse grupo manter o Vasco na Primeira Divisão. Peço ao torcedor que entenda que eu fiz o máximo, o maior respeito pela agremiação, pelo torcedor do Vasco da Gama… Não tenho nenhum problema, não vai mexer em nada na minha história profissional de eu aceitar de estar no Vasco neste ano participando dessa reconstrução. Estou disposto a isso porque o Vasco é muito grande, e o Vasco precisa se reencontrar com sua história, que é muito bonita. Essa história de hoje vinha passando perto há muito tempo, mas quero participar dessa reconstrução desse clube maravilhoso que é o Vasco da Gama. O Vasco tem que estar entre as cinco maiores equipes. Me desculpe, torcedor. Me doei ao máximo. Da minha parte, eu peço desculpa, mas foi o geral.

Luxa também disse que, se a direção concordar, ele continuará no clube. Quer ajudar a reconstruir o time e não teme eventual mancha por disputar a Série B

– Eu vim para o Vasco por 12 jogos. Falaram que colocaria a carreira em risco. Não tenho essa preocupação, a minha carreira está aí. Eu estou à disposição do Vasco para uma reconstrução, a reconstrução de um gigante. Se o Vasco entender que eu posso ajudar, estou pronto. Nos últimos três anos, o Vasco beira do rebaixamento. Uma hora… Não tenho nenhum problema de trabalhar na Série B. A minha proposta era deixar o Vasco não cair, não conseguimos. Caímos não hoje, mas em um processo crescente de muito tempo. Acabou que não teve como recuperar – afirmou.

Veja outras respostas de Luxemburgo:

 

Sobre o desempenho contra o Corinthians

Se jogássemos como jogamos com Inter e Corinthians, se você falar que não jogou com qualidade, isso o Vasco tem ao longo do tempo, mas falta de aplicação e determinação não. Eu discordo. Jogadores se empenharam e se aplicaram. Tecnicamente não conseguimos desenvolver e jogando aqui contra o Corinthians precisando de Libertadores. Foi enfrentamento de igual para igual.

Conversa no vestiário

Pedi só para eles rezarem, que é o que fazem no fim do jogo, e não falei nada. Tentei com Pec e Juninho mudar o meio e dar mais velocidade à equipe. O Catatau porque o Gil e outro zagueiro estavam ganhando muito bola de cabeça. Começamos a disputar e ganhar a segunda bola. Os caras foram cansando e fizemos as substituições, mas elas não fluíram como você imagina. Não vou botar culpa no Juninho, no Pec, no Talles. São jovens jogando na casa do adversário, jogando uma proposta para não cair para a Segunda Divisão. A gente vai chamar essa responsabilidade e dividi-la.

Situação política do clube

Eu trabalhei no Vasco no ano retrasado. Os problemas que o Vasco tem hoje são os mesmos que tem lá atrás. Falta de pagamento, falta de presença. Salgado, Osório e o departamento jurídico estão de parabéns. O Vasco se mostrou presente, foi à Justiça e à CBF para ir atrás do seu direito. Isso mostra que é uma postura diferente dos dirigentes e dos jogadores. Acho que essa diretoria deu um passe certo: estamos aqui, não façam isso com o Vasco da Gama.

Pior trabalho da carreira?

Assim você está pegando pesado demais, você não pode me responsabilizar pela queda em 12 jogos. Eu não posso fugir da responsabilidade, mas você vir com uma pergunta agressiva… Não cabe, cara. Minha proposta foi ajudar o Vasco da Gama em 12 jogos, e você não reconstroi uma equipe em 12 jogos. É muito pouco para colocar tudo em prática. Você esbarra daqui e ali. Me permita divergir de você. Tenho parcela de culpa porque sou responsável.

Planejamento

Claro que vim para cá para colocar toda minha qualidade profissional como gestor técnico, mas não conseguimos. Temos que fazer uma equipe de Segunda Divisão no Brasileiro da Segunda Divisão. Os recursos serão totalmente diferentes. Temos alguns jovens que não podemos desprezar. Alguns jogadores obviamente, porque eles sabem isso, não vão continuar.

O Vasco, como equipe, se preparando para disputar a Segunda Divisão e com a parte administrativa e política que vem trazendo problemas há tempos. Salgado está propenso a uma reconstrução do Vasco da Gama. Sobre o futebol, vamos estar atentos para fazer um bom estadual e um bom Brasileiro, voltando para a Primeira Divisão.

Mais sobre o futuro

Na parte técnica, vamos ter reuniões internas sobre jogadores que vão sair e ficar. Não adianta falar externamente o que vamos fazer, estamos falando no geral do que precisa ser feito. Campeonato Brasileiro da Série B com três grandes clubes, e o Vasco teve 18 erros do VAR. Existe essa preocupação porque são muitos erros para um campeonato. Uma coisa que tem que ser revista não só no Vasco da Gama, mas também uma análise no futebol brasileiro. Ver o que está acontecendo para que o VAR tenha muito mais importância do que o juiz.

Bandeiras e árbitros estão transferindo todas as suas responsabilidades para o VAR. São profissionais de alto nível. Precisa também, como o Vasco da Gama e o futebol brasileira, ser revisto. Trouxeram muito prejuízo e macularam a conquista do campeonato. Não vou tirar mérito de ninguem, mas maculou bastante.

Rebaixado?

Existia a possibilidade de manter o time na Primeira Divisão. Não tenho nenhuma preocupação com minha imagem profissional de que maculou. Agora você foi para a Segunda Divisão… Tantos profissionais foram, o Vasco da Gama é um clube muito grande. É um grande orgulho trabalhar na reconstrução do Vasco da Gama. Obviamente não passa só por mim, passa pela diretoria para ver se é isso que vai acontecer.

Essa parte política e administrativa de toda remodelação do Vasco passa pelo Salgado e com o Osório, vice-presidente. Com respeito à parte técnica, da reconstrução do time de futebol. Do planejamento como um todo, que começa no profissional e vai até à categoria da base. Categoria de base não pode estar desvinculada do profissional, tem que ser uma coisa vertical para se ter um planejamento.

Vasco da Gama sempre revelou muitos jogadores, mas acho que é trabalho vertical onde a base está inserida no contexto que pertence ao profissional. É uma filosofia do profissional achatando e chegando até onde deve chegar.

Como ajudar na reconstrução

Daqui você começa uma reconstrução, pagamento, vai ter uma perda substancial de receita. Coloquei que se o Vasco não se mantivesse na Primeira Divisão, eu não queria receber. Se a diretoria quiser que eu permaneça, estou propenso a negociar. Durante minha vida profissional, ganhei muito dinheiro. Agora é uma questão moral. Quero ajudar o Vasco da Gama a se reconstruir. Já participei de vários clubes que se reconstruíram. Vou discutir de uma realidade dentro de Segunda Divisão.

FontePor G1