Diálogos obtidos no celular de Mauro Cid mostram que general teria consentido com adesão ao golpe de Estado, desde que Bolsonaro assinasse a medida
Por Malu Gaspar
O general Estevam Theophilo, um dos alvos de busca e apreensão na operação da Polícia Federal desencadeada nesta quinta-feira, batizada de Tempus Veritatis, teria garantido ao ex-presidente Jair Bolsonaro que colocaria sua tropa na rua para apoiar um golpe de estado.
De acordo com fontes da PF, a informação foi fornecida pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, em sua delação premiada, e teria sido corroborada por mensagens e registros da participação de Theophilo na reunião em que Cid relatou ter sido discutida a minuta de golpe, com a presença de Bolsonaro e comandantes das Forças Armadas.
Theophilo também foi uma das visitas mais assíduas de Mauro Cid no batalhão do Exército em Goiânia, após sua prisão já no bojo das investigações a respeito da tentativa de golpe de estado em que manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília
Naquele momento, Theophilo era chefe do Comando de Operações Terrestres, o Coter, órgão do Exército responsável por coordenar o emprego das unidades militares. Theophilo também foi Comandante Militar da Amazônia.
De acordo com as investigações da PF, em 9 de dezembro de 2022, Theophilo se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Segundo diálogos encontrados no celular de Mauro Cid, o general “teria consentido com a adesão ao golpe de Estado desde o que presidente assinasse a medida”.
“Nesse sentido, além de ser o responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos apontam que caberiam às Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes assim que o decreto presidencial fosse assinado”, ressalta a PF.
As investigações da PF também obtiveram uma outra mensagem, nos primeiros dias do governo Lula, em que Mauro Cid encaminha ao general uma notícia jornalística sobre os riscos de o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro ser preso nas primeiras semanas do ano.
“Fique tranquilo, Cid. Vou conversar com o Arruda hoje. Nada lhe acontecerá”, escreveu Theophilo, em referência ao então comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda. Arruda acabou deixando o cargo em 21 de janeiro de 2023, após ser acusado de leniência com os militares que participaram dos atos golpistas de 8 de Janeiro.