Empresários dos EUA farão protesto contra tarifas promovidas por Trump

AFP/Arquivos / Fred DUFOUR

Empresários americanos pretendem fazer um protesto contra a nova onda de tarifas que o presidente Donald Trump planeja impor às importações chinesas, durante audiências públicas convocadas pelo governo e que começam nesta segunda-feira (17), em Washington.

Nos sete dias de duração desses depoimentos, os empresários mostrarão sua preocupação em relação às consequências da disputa comercial com Pequim. Segundo eles, essa política põe em risco empregos, receita e fatia do mercado.

Embora algumas indústrias como as do aço e do alumínio estejam entre as beneficiadas pela política comercial do presidente Trump e apoiem as tarifas, a maior parte das empresas pede ao governo que não as aplique às importações, das quais sua atividade depende.

Trump ameaçou impor uma nova faixa de taxas aos bens chineses, devido à interrupção das negociações comerciais com Pequim no mês passado.

Se entrarem em vigor, essas novas tarifas aplicadas a bens avaliados em 300 bilhões de dólares vão afetar, no total, mais de 500 bilhões de dólares em mercadorias importadas todos os anos do gigante asiático pelos Estados Unidos.

Em uma carta dirigida a Trump na quinta-feira passada, centenas de empresas americanas advertiram que outra rodada de tarifas poderá provocar o corte de dois milhões de empregos e reduzir o crescimento do PIB americano em 1%. Entre seus signatários, estão Target e Walmart.

Até agora, a administração Trump impôs tarifas a mercadorias avaliadas em mais de 250 bilhões de dólares, mas isso ainda não havia sido suficiente para causar uma forte alta dos preços dos bens de consumo.

Para William Reinsch, especialista do Center for Strategic and International Studies (CSIS), as novas tarifas podem afetar mais os consumidores.

“Ao contrário da vez anterior, acho que haverá uma forte reação do público”, disse ele à AFP.

“Se essas medidas entrarem em vigor em julho, o preço de vários produtos vai subir de forma bastante imediata”, completou.

O presidente americano espera encontrar uma solução para essa disputa, durante o encontro previsto com seu colega chinês, Xi Jinping, na cúpula do G20 prevista para final de junho no Japão.

No domingo, seu secretário do Comércio, Wilbur Ross, jogou um balde de água fria nas expectativas sobre o encontro entre Trump e Xi. Segundo ele, os dois líderes alcançarão “na melhor das hipóteses” um acordo “para retomar as conversas”, disse em uma entrevista no Wall Street Journal.

“Consulte a Deus”

Mais de 300 pessoas vão testemunhar em Washington durante as audiências públicas. O gabinete do representante americano do Comércio recebeu mais de 1.200 comentários escritos.

“Não somos capazes de transferir rapidamente toda a fabricação para outros fornecedores, o que provocará uma alta dos preços para o consumidor americano médio”, avisou o diretor-executivo da Ralph Lauren, Patrice Louvet.

O gigante dos serviços petroleiros Halliburton alertou para o corte de vagas e para uma redução da exploração de petróleo e de gás, se aumentarem em 25% as tarifas sobre a barita. Mineral crucial usado nos fluidos de perfuração, a China possui as maiores reservas mundiais desta matéria-prima.

As pequenas empresas também protestaram.

“O setor da distribuição se dispõe a sofrer um grande golpe, e rezamos para que o governo atual consulte a Deus”, disse um importador de árvores de Natal artificiais no Kentucky.

A vice-presidente da Câmara de Comércio chinesa de produtos alimentícios, Lu Yu, considerou que sobretaxar o chá chinês não faz sentido, já que os Estados Unidos não são um país produtor desse produto.

Já Kevin Hassett, conselheiro econômico do governo Trump, disse à rede CNBC na sexta-feira que o encontro entre Trump e Xi pode trazer um avanço rápido.

“A esperança é que, durante o G20, os dois presidentes possam começar a se aproximar do ponto em que estávamos há meses, quando estávamos realmente perto de um acordo”, indicou.

A possibilidade de que as novas tarifas prejudiquem os consumidores traz um risco político para Trump.

Pesquisas feitas pelas universidades de Monmouth e Quinnipiac em maio mostram que a maioria dos americanos desaprova sua política comercial.

Para Reinsch, o presidente Trump se verá diante de um dilema, já que é improvável que Pequim aceite suas exigências mais estritas.

“O presidente tem duas opções: aceitar um acordo mais fraco, ou continuar a guerra”, apontou.

“Não há solução simples à vista”, completou Reinsch.