Capitão, campeão e titular da Seleção: Gerson vai muito além do Coringa no melhor ano da carreira

Por Cahê Mota — Belém, Pará

Aclamado, consagrado, consolidado. O adjetivo fica a cargo do interlocutor, o que não dá para discutir muito é que 2024 elevou Gerson a níveis nunca alcançados na carreira. Para usar chavões tipicamente rubro-negros, o Coringa está em outro patamar, e a vaga de titular da Seleção diante da Venezuela nesta quinta-feira comprova isso.

Gerson em treino da Seleção em Belém — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Gerson em treino da Seleção em Belém — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Da fragilidade, no entanto, Gerson retornou indomável. Chamou para si a responsabilidade em um Flamengo carente de novas lideranças de vestiário e técnicas. Coadjuvante de luxo no histórico ano de 2019, assumiu um protagonismo indiscutível fosse como volante, meia ou atacante.

Não é exagero dizer que Gerson é o “dono” deste Flamengo campeão carioca e da Copa do Brasil. E foi justamente esta performance ao longo dos 57 jogos já disputados no ano (com quatro gols e sete assistências) que convenceram Dorival na disputa por posição com Lucas Paquetá.

 

Ainda aos 27 anos, Gerson, enfim, dá sinais de pavimentar o caminho para realizar o sonho de se firmar na Seleção e disputar uma Copa do Mundo. A partida desta quinta contra a Venezuela será a décima com a camisa verde amarela, mas a primeira sequência de dois jogos como titular.

Os percalços do difícil 2023 do Flamengo e fora de campo em 2024 parecem ter alçado o Gerson ao nível de maturidade que uniu em um só o garoto talentoso de Xerém, o Coringa de Jorge Jesus e o líder dos tempos atuais. Nos bastidores do Ninho do Urubu, é uma unanimidade em aprovação que se alastra no boca a boca dos bastidores do futebol.

Gerson seria titular de Tite em jogo contra a Argentina cancelado em 2021 — Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Gerson seria titular de Tite em jogo contra a Argentina cancelado em 2021 — Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Seja pela educação, pela gentileza ou pela capacidade de unir, a liderança de Gerson vai muito além da faixa que exibe dentro de campo. O apelido de “paizão” que recebeu de garotos como Wesley, Lorran e Everton Araújo se espalha pelo CT rubro-negro em papel que o volante desempenha com naturalidade através de conselhos dentro e fora de campo.

A expressão “máximo respeito por você, paizão” que escuta da garotada vem também do exemplo silencioso. Na última Data FIFA, fez questão de entrar em campo no Fla-Flu mesmo tendo jogado 100 minutos contra Chile e Peru.

Dias depois, superou problemas de saúde para ser figura determinante no Flamengo que empatou com o Corinthians com um a menos, em Itaquera, e se classificou para a final da Copa do Brasil. Na manhã daquele domingo, precisou receber medicação e soro na veia para conseguir sair da cama e entrar em campo – por mais que tivesse que ter ficado em repouso absoluto no dia seguinte.

Relatos de uma temporada onde Gerson naturalmente entendeu que precisava ir além do talento para realizar sonhos ainda pendentes – fosse com o Flamengo ou com a Seleção. Presente nas três últimas convocações de Dorival, teve paciência para ganhar espaço e desfrutar dos momentos.

“Os problemas que eu tive de saúde me fizeram refletir e dar valor às coisas da vida. Um dia eu estava bem e no outro na cama de hospital. Passei a ver a vida de outra forma. Como falo com meus amigos e família, dou um passo de cada vez, não dou um passo maior do que a perna”

 

Flamengo ergue taça de campeão da Copa do Brasil após vitória contra o Atlético-MG — Foto: Cris Mattos/Reuters

Flamengo ergue taça de campeão da Copa do Brasil após vitória contra o Atlético-MG — Foto: Cris Mattos/Reuters

– Tenho que aproveitar o meu momento para colher os frutos. Fui convocado da outra vez, agora de novo, e tenho que aproveitar com calma. Sem querer me empolgar demais, concentrado no que eu quero, no grupo que é o mais importante e não no eu. O momento delicado que eu passei me fez enxergar a vida de outra forma. Temos que fazer tudo o que almejamos, mas sem pressa, um passo de cada vez.

Faltando dois jogos com a camisa do Brasil e mais cinco vestindo rubro-negro, Gerson ainda tem episódios finais a escrever em 2024. Não há dúvidas, porém, de que já se trata de uma temporada com final feliz, daquelas que o torcedor conta as horas à espera do que vem por aí.

FonteGE