Rússia anuncia conclusão de exercícios militares na Crimeia, enquanto Ocidente cobra por provas de recuo de tropas

MOSCOU — Um dia após anunciar a retirada parcial de militares que atuavam na fronteira com a Ucrânia, o Ministério da Defesa da Rússia informou nesta manhã de quarta-feira que mais tropas estão deixando a Península da Crimeia depois de concluírem  exercícios militares.

“As unidades do Distrito Militar do Sul, tendo completado sua participação em exercícios táticos, estão se movendo para seus postos permanentes”, informou o Ministério da Defesa em comunicado, sem especificar quantos soldados estavam deixando o local. A Crimeia, que foi cedida à Ucrânia no período soviético e anexada por Moscou em 2014, abriga a sede da Frota russa no Mar Negro.

 O Ministério da Defesa publicou um vídeo que mostra uma coluna de tanques e veículos militares deixando a Crimeia à noite através de uma ponte ferroviária após exercícios. Um comboio separado de veículos militares atravessou uma ponte diferente, informou a agência de notícias Tass.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a Ucrânia e países do Ocidente, no entanto, permanecem céticos sobre a desmobilização. Não está claro, por exemplo, quantos soldados deixaram a península.

A Rússia já anunciou outras vezes a remoção de tropas perto da fronteira ucraniana, sem que, nos dias posteriores, fotos de satélite indicassem uma efetiva diminuição no número de forças. O próprio governo russo admite que a maioria das forças permanece mobilizada em uma série de exercícios em larga escala para treinamento operacional.

O secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, defende que ainda não viu nenhuma evidência de que a Rússia esteja reduzindo sua operação.

— No terreno, o que observamos mostra o oposto. Lembremos que a Crimeia era uma parte autônoma da Ucrânia que foi invadida e anexada ilegalmente pela Rússia em 2014. Portanto, não tenho certeza de que isso forneça qualquer garantia a alguém de que um país ocupado está tendo seus exercícios suspensos. O que todos nós queremos na comunidade internacional é ver a Crimeia devolvida à Ucrânia — disse em entrevista à BBC.

Otan vê movimento de tropas

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que o número de tropas russas na fronteira com a Ucrânia continua subindo.

— Realmente pedimos que façam o que dizem e realmente diminuam esse números, ou seja, retirem os militares da região. Essa será sua melhor contribuição para reduzir as tensões e evitar qualquer conflito na Europa — ressaltou.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, declarou que a Rússia deve escolher entre a guerra e a diplomacia.

— Nos últimos dois dias, a Rússia sinalizou que pode estar aberta à diplomacia, e pedimos que tome medidas concretas e tangíveis para a desescalada, porque essa é a condição para um diálogo político sincero. A escolha hoje é uma escolha entre a guerra e os trágicos sacrifícios que acompanhariam essa guerra, ou a coragem de um compromisso político, a coragem de uma negociação diplomática — afirmou em reunião com legisladores da União Europeia.

Na Bielorrússia, outra área onde há acúmulo de forças russas, autoridades prometeram que todos os soldados russos destacados em seu território para realizar exercícios militares deixarão o país tão logo as manobras cheguem ao fim no dia 20 de fevereiro.

As manobras despertaram o temor de que a Bielorrússia, que também faz fronteira com a Ucrânia, fosse usada como base para uma invasão. O ministro das Relações Exteriores bielorrusso, Vladimir Makei, disse que “não haverá um único soldado, uma única equipe deixada em território bielorrusso após os exercícios militares. Ele acrescentou que nem Moscou nem Minsk têm interesse em uma guerra.

FonteO Globo e agências internacionais