Presidente da Argentina se desculpa por festa clandestina; oposição pede impeachment

Encurralado pela aparição da foto de uma festa de aniversário clandestina na residência oficial, o presidente Alberto Fernández não teve mais remédio a não ser admitir a reunião social que antes tinha negado.

Porém, quando havia a expectativa no país de um pedido de desculpas e até de uma autodenúncia na Justiça, Fernández minimizou a violação das regras de isolamento social e optou por concentrar a culpa na sua mulher.

“Lamento o que aconteceu. Não vai voltar a acontecer”, disse o presidente.

 

O evento teria ocorrido enquanto estava em vigor um decreto, por ele mesmo assinado, que proibia as reuniões e a circulação de pessoas enquanto obrigava o uso de máscaras e o distanciamento social.

“Fabiola [Yañez, primeira-dama] convocou uma reunião para um brinde com os amigos que não deveria ter feito. Definitivamente, percebo que não deveria ter feito”, disse Fernández.

O deputado Mario Negri, líder da oposição na Câmara e um dos autores de um pedido de impeachment, criticou o presidente argentino: “Não é de um cavalheiro culpar a sua esposa. Não foi um descuido”, afirmou.

“O presidente não explicou por que mentiu aos argentinos ao negar as reuniões sociais e entrou mais no seu próprio labirinto”, disse Negri.

 

“Um pedido de desculpas para um delito não teria sido suficiente. Mesmo assim, o presidente só disse que lamentava como se isso fosse suficiente”, acrescentou o deputado opositor Facundo Suárez Lastra.

Desigualdade perante a lei

 

A fotografia, do dia 14 de julho de 2020, aniversário da primeira-dama, Fabiola Yañez, revela uma festa clandestina e sem medidas de proteção. Na imagem, aparecem 11 pessoas, além da que tirou a foto, em volta de uma mesa com jantar, bolo de aniversário e champanhe.

Na época, o governo tinha divulgado que “o aniversário da primeira-dama, por ser em plena pandemia, será por ‘zoom’ e com máscaras”. A divulgação acompanhava uma foto de Fabiola Yañez solitária com arranjos florais.

A verdade agora revelada não é a única evidência de infrações. A divulgação de uma lista de frequentadores da residência presidencial, durante o auge do confinamento na Argentina, inclui uma série de convidados durante a noite de aniversário do próprio Alberto Fernández, em 2 de abril de 2020.

Há registro de dezenas de visitas de cabeleireiros para a primeira-dama enquanto no país os cabeleireiros foram obrigados a ficarem fechados durante sete meses.

O cachorro do presidente recebeu dezenas de sessões de adestramento enquanto as escolas do país mantiveram-se fechadas. Dezenas de convidados foram à residência presidencial quando a circulação estava proibida para reuniões que podiam ter acontecido de forma virtual.

A confissão de uma festa em plena quarentena expõe Alberto Fernández às consequências legais previstas nos decretos que o próprio anunciou, depois de ter participado da sua redação como presidente e como advogado penalista.

Inquérito penal, político e moral

 

Os artigos 205 e 239 do Código Penal aos que Alberto Fernández fazia alusão a cada novo anúncio de renovação do confinamento estabelecem penas de seis meses a dois anos de prisão a quem violar as medidas que impedem a introdução ou a propagação de uma epidemia, e de até um ano de prisão por desobedecer uma autoridade.

FontePor Márcio Resende, RFI — Buenos Aires