Neto e adolescente envolvidos em morte de idosa também vão responder por feminicídio, diz polícia

A polícia imputou, além do ato infracional equiparado a homicídio qualificado, o crime de feminicídio aos envolvidos na morte da morte da professora aposentada e sindicalista Maria Ildonei Lima Pedra, de 70 anos. O inquérito já foi concluído e, conforme a investigação, ficou claro que o caso se trata de violência doméstica por parte do neto da vítima, tendo o outro adolescente total conhecimento deste parentesco.

“A qualificadora objetiva se estende ao neto, mas, também ao outro que tinha conhecimento do parentesco. É então um caso de homicídio triplamente qualificado, no qual eles respondem de acordo com o ECA [Estatuto da Criança e Adolescente]. Outra questão é o fato da vítima ser maior de 60 anos, impossibilitando a sua defesa, sendo esta uma das majorantes”, afirmou ao G1 a delegada Ariene Murad Cury, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (Deaij).

Agressão e ameaças

Recentemente, ao serem encaminhados para a Unidade Educacional de Internação (Unei) Dom Bosco, no bairro Los Angeles, em Campo Grande, um dos adolescentes foi agredido e ameaçado, ainda conforme a polícia. Ele prestou depoimento na delegacia na última sexta-feira (14), sendo que os agentes informaram que os menores chegaram falando que “mataram uma velhinha de 70 anos”, o que gerou revolta por parte dos internos.

“Os agentes trouxeram o adolescente, dizendo que eles chegaram lá falando desta maneira e isto gerou revolta nos outros internos. Um deles tinha tomado um remédio e passou mal, sendo levado ao médico. Já o outro, que é comparsa do neto, foi agredido e ameaçado por cinco internos, sendo quatro adolescentes e um suspeito de 18 anos”, comentou Murad.

Investigação

Desde o 1° dia de buscas, a investigação tinha a informação de dois envolvidos no crime. “Testemunhas viram eles saindo da casa da vítima. Ela tinha o costume de dormir cedo, estava de pijama e com o ar-condicionado ligado, além da cama desarrumada. Eles então a chamaram no portão, entraram, conversaram por um tempo e acabaram cometendo o crime. Em seguida, tiveram o cuidado de fechar a casa e levar as chaves”, explicou Giulliano Carvalho Biacio, que conduziu as investigações na 6ª Delegacia.

Confissão do neto

Em um primeiro momento, o menino negou envolvimento no crime.”Ele negou por um dia, porém, quando viu que a investigação chegaria até eles, o familiar confessou o crime para os pais. Não houve muita resistência e os dois acabaram confessando. Para a família, é uma dor e tragédia sem tamanho”, avaliou o delegado.

Crime premeditado

Durante coletiva à imprensa, na 6ª Delegacia de Polícia, o delegado ressaltou que os jovens premeditaram o crime por meses e a motivação seria, simplesmente, a vontade de matar: “Eles se autointitulavam ‘psicopatas’ e estudavam o assunto na internet e em revistas. Os dois se encontraram na escola e um comentou com o outro, ‘acordei com vontade de matar alguém’, esse concordou e, ao longo do dia, eles decidiram como fazer”, explicou na ocasião.

As investigações foram concluídas nessa quinta-feira (13) . Segundo o delegado,eles foram à casa da aposentada e um deles, que havia trazido uma faca de casa, desferiu com ela um golpe contra o pescoço da idosa. Em seguida, o familiar pegou a mesma faca e golpeou-a no abdômen.

Os jovens ainda levaram luvas de látex e máscaras: “Eles usaram as luvas para poder fazer essa limpeza, foram no quarto, mexeram nas roupas, quebraram o celular da vítima e jogaram debaixo do sofá, e levaram máscaras, para, no caso de haver algum vizinho ali fora, eles pudessem sair sem serem identificados”, disse.

Crucifixo, terço e taças gravadas com sangue

De acordo com o delegado, após o crime, os jovens tentaram deixar uma espécie de ‘assinatura’: “Eles colocaram um crucifixo [sobre o corpo da vítima] e os terços. Em seguida pegaram duas taças, e segundo eles, gravaram com o sangue da própria vítima o número ’31’ em uma, e ‘8’ na outra, representando a data da morte”, conta.

À polícia, os menores disseram que após o crime, “trocaram de roupa e foram para o shopping”. Um deles, que vinha sendo ouvido, confessou o crime aos pais e foi levado à delegacia por eles. O outro foi encontrado em casa: “Os meninos são muito inteligentes, mas são frios”, afirmou o delegado.

Por serem menores, a investigação agora será encaminhada para a Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (Deaij). Uma perícia também deve avaliar a sanidade mental dos jovens. Os dois menores foram recolhidos à Unidade Educacional de Internação (Unei), em Campo Grande.

Entenda o caso

A professora aposentada foi encontrada morta na cozinha da casa dela, no Jardim Leblon, em Campo Grande, por volta das 19h30 (de MS), do dia 1° de setembro.

FonteG1 MS