‘Mandei, qual problema?’

Por Artur Nicoceli, g1

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu ter pedido a um empresário para “repassar ao máximo” mensagem questionando as urnas eletrônicas.

“Eu mandei para o Meyer [Nigri, fundador da Tecnisa], qual o problema? O [ministro do Supremo Tribunal Federal e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral Luís Roberto] Barroso tinha falado no exterior [sobre a derrota da proposta do voto impresso na Câmara, em 2021], eu sempre fui um defensor do voto impresso”, disse Bolsonaro.

 

A declaração foi feita à Folha de S. Paulo durante um voo de Brasília a São Paulo nesta quarta. Bolsonaro viajou à capital paulista para realizar procedimentos médicos. Segundo o advogado Fábio Wajgarten, o ex-presidente foi internado no hospital Vila Nova Star para realizar exames de rotina.

Nigri é um dos oito empresários que foram alvos de mandados em razão de conversas em aplicativo de mensagens sobre um suposto golpe de Estado. Na segunda-feira (21), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) deu à Polícia Federal mais 60 dias para que sejam feitas diligências em relação a Nigri.

“A dilação de prazo solicitada pela Polícia Federal é justificada, uma vez que, em relação ao investigado Meyer Joseph Nigri há necessidade da continuidade das diligências, pois o relatório da Polícia Federal ratificou a existência de vínculo entre ele e o ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive com a finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à Democracia e ao Estado Democrático de Direito”, justificou Moraes.

 

No mesmo dia, Moraes decidiu pelo arquivamento de investigação contra seis empresários, mas manteve aberto o de Nigri e de Luciano Hang, dono da Havan.

“[Sobre o segundo empresário], o relatório aponta a necessidade de extração e análise do material apreendido em seu celular, em razão da ausência do fornecimento das senhas pelo investigado. Consta, segundo informação policial, que a perícia técnica ainda trabalha no processo de identificação das referidas senhas”, acrescentou o ministro.

Fake news disparada por Bolsonaro foi parar em página de golpistas

Saiba mais

Investigação da PF

 

Na investigação sobre um grupo de empresários que discutiram, pelo WhatsApp, um golpe de estado, a Polícia Federal encontrou uma mensagem do contato “PR Bolsonaro 8” que ataca, sem provas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Supremo Tribunal Federal (STF) e o instituto de pesquisa Datafolha.

A Polícia Federal convocou o ex-presidente para depor no dia 31 de agosto sobre o assunto. Esse será o quinto depoimento de Jair Bolsonaro em investigações abertas pela PF. Ele já teve que dar:

  1. Explicações sobre as joias doadas pelo governo saudita;
  2. Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro;
  3. Sobre a suspeita de fraude de cartões de vacinação;
  4. Sobre o suposto plano de golpe denunciado pelo senador Marcos do Val.

Procurada pelo g1, a defesa de Meyer Nigri disse nesta quarta-feira (23) que ele jamais foi disseminador de notícias falsas; que apenas encaminhou mensagens de terceiros para fomentar o legítimo debate de ideias de forma eventual e particular; que Meyer Nigri sequer possui contas em redes sociais ou em qualquer outra plataforma de disseminação em massa; e que tem plena certeza de que ficará devidamente demostrado que não praticou crime algum.

Conversa no WhatsApp

 

Veja a transcrição da troca de mensagens entre Meyer e Bolsonaro que foi revelada pelo blog da Daniela Lima.

PR Bolsonaro 8: O ministro Barroso faz peregrinação no exterior sobre o atual processo eleitoral brasileiro, como sendo algo seguro e confiável. O pior, mente sobre o que se tentou aprovar em 2021: o voto impresso ao lado da urna eletrônica, quando se reuniu com lideranças partidárias e o voto impresso foi derrotado. Isso chama-se INTERFERÊNCIA. Todo esse desserviço à democracia dos 3 ministros do TSE/STF, faz somente aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições. O DataFolha infla os números de Lula para dar respaldo do TSE por ocasião do anúncio do resultado eleitoral. REPASSE AO MÁXIMO.

Meyer Nigri: Já repassei para vários grupos

Meyer Nigri: Faz tempo que não nos falamos. Como vc tá?

Meyer Nigri: Abs de Veneza

Mensagem enviada — Foto: Petição 10.543 DF/Reprodução

Mensagem enviada — Foto: Petição 10.543 DF/Reprodução

 

O ex-presidente também está envolvido em outro imbróglio, neste caso, sobre joias recebidas da Arábia Saudita. Em março, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal em Guarulhos começaram a investigar entrada ilegal de joias da pela comitiva do então ministro Bento Albuquerque.

E, em 11 de agosto, o Ministério Público Federal de São Paulo pediu à Justiça que o inquérito sobre as joias sauditas recebidas pelo governo Jair Bolsonaro passe a tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF).

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No pedido feito à Justiça, o MPF de SP afirmou que o caso sob investigação em Guarulhos tem conexão com fatos já em análise no Supremo Tribunal Federal. Não há prazo para a Justiça se manifestar sobre o pedido.

O STF analisa supostas joias recebidas por Bolsonaro que deveriam fazer parte do acervo da República e foram vendidas ilegalmente.

Na última quinta-feira (17), o ministro Alexandre de Moraes autorizou o pedido de cooperação internacional feito pela Polícia Federal para solicitar aos Estados Unidos a quebra de sigilo bancário das contas dos investigados.

O pedido de cooperação também prevê requerer ao FBI que investigue as joalherias e lojas onde foram vendidos kits e relógios dados de presente ao governo brasileiro (entenda o caso abaixo). O objetivo é identificar pessoas físicas que, via telefone ou meio eletrônico, transacionaram ilegalmente esses bens e onde foi parar o dinheiro obtido das vendas.

Cronologia da movimentação do Rolex desde o recebimento do presente, passando pela venda e recompra por aliados de Bolsonaro — Foto: Luisa Rivas e Kayan Albertin/Arte g1
FontePor G1