HATERS – A MODA DO ÓDIO INJUSTIFICADO

"Se você odeia alguém, é porque odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos perturba." (Hermann Hesse)

E lá vamos nós com outro fenômeno que vem direto da Aldeia Global chamada Redes Sociais (favor clicar no link para quem acha que estou falando de uma certa emissora carioca, não estou). “Haters gonna Hate” já é uma frase conhecida pelos mais conectados que, em tradução livre, seria “odiadores vão odiar”. Basicamente, hater é aquela pessoinha que resolve fazer comentários ácidos e nervosos sobre algo ou alguém sem nenhum critério específico. Vai além do comportamento agressivo e provocador dos Trolls, aqueles chatos virtuais de plantão que gostam de provocar conflitos desnecessários em salas de bate-papo (chats), blogs, etc. No Brasil, virou o verbo informal “trollar”.

Haters podem odiar de tudo: Justin Bieber e o Ben Afleck, músicas e séries, comida e carros e até mesmo este artigo, sem justificativa nenhuma. O interessante é que apesar da atitude hater não ser de propriedade masculina, ela surge como um contraponto ao universo feminino do “eu amo tudo” de alguns anos atrás e que foi reduzido para um simples “amei!”. Bem que este movimento poderia ter sido chamado de “Lovers” mas as redes sociais ainda não faziam parte do cotidiano e nem eram tão fortes para tal.

De qualquer forma, tanto um (movimento) quanto o outro mascaram uma atitude inconsciente bem perigosa: a falta de reflexão sobre como realmente nos sentimos diante das coisas, pessoas e acontecimentos.

Amor e Ódio são sentimentos complexos e totalmente indefinidos (na sua razão lógica) por natureza. Existem inúmeros motivos para despertar a paixão ou o desprezo pelo outro (inclusive sociais e biológicos). Tanto a moda quanto a publicidade usam e abusam destes sentimentos como estratégia de marketing com o objetivo de vender produtos e serviços para adolescentes e adultos estressados, incompreendidos e carentes.

Sem perceber, acabamos por incorporar sentimentos diluídos que podem não representar exatamente como nos sentimos. Peraí, eu não amo (ou odeio) tudo isso!

Sem o meio-termo que a polaridade Love/Hate deveria conter (a reflexão), a balança sempre cai para o lado mais pesado e deixa de ser uma manifestação ingênua para agressividade concreta e quase religiosa. Dois exemplos atuais: os Black Bloc e suas manifestações de suposto fundo moral e propósito anarquista e o aumento das ameaças de morte nas redes sociais por nerds e fãs descontentes com qualquer mudança naquilo que “amavam” até então em seu autores e artistas.

A ideia de um adolescente (14 aos 21 anos) se comportar desta maneira não impressiona e mesmo que pareça extremo, faz parte do crescimento,  amadurecimento e descoberta da própria identidade. E não pretendo esticar a conversa para questões como falta de ensino e educação (que são sistemas completamente diferentes). O triste mesmo é ver “adultos” caindo na osmose desse sentimento drive-thru.

Tá difícil pra todo mundo, pois é, mas isso não é desculpa para abraçar qualquer coisa/causa e se tornar uma referência confusa para crianças e adolescentes. O público-alvo e formador de qualquer tendência é, e sempre será, a geração mais jovem.

Portanto, ser absorvido por essa mentalidade é pagar mico fazendo biquinho duckface (cara de pato) no Facebook e outras atitudes lamentáveis para quem já passou da idade. É uma mistura confusa entre “Why So Serious?” com “Be Stupid”.

Bom lembrar que isso não tem nada a ver com liberdade de expressão, ponto de vista ou qualquer tipo de censura aos seus direitos de livre-arbítrio. Trata-se apenas de alinhar aquela teoria de que todo mundo é bom com a prática de realmente tentar ser legal como ser humano e cidadão, inclusive virtual.

Sair detonando todo mundo na internet (mesmo que seja moda) não parece sinal de uma maturidade emocional consciente.


E para você odiar ainda mais este artigo, aqui vai mais uma: pesquisas recentes (leia aqui e aqui) afirmam que os homens amadurem somente 11 anos depois das mulheres. Para os marmanjos, a idade aproximada da maturidade plena seria aos 43 anos e para as “mocinhas”, apenas aos 32.

Quase metade das mulheres (46%) reclamaram que seus parceiros agem como “meninos crescidos” durante a maior parte do ano e elas fazem o papel de “mães disciplinadoras”. E muitos relacionamentos acabaram por causa disso. Droga, odeio quando uma pesquisa tem razão!

Querendo ou não, os haters vieram para ficar por um bom tempo. É vibe, é trend é o que você quiser. O mundo real sempre foi cheio de reclamões e chatos. Entender como você não precisa fazer parte do processo (e pode contribuir para que a moda passe) é a grande questão. Haters gonna hate mas agora já falei. Até a próxima!

Marcos Henrique de Oliveira

FonteMarcos Henrique de Oliveira