Diante do aumento dos homicídios, Fábio Trad critica a”banalização da vida”

O deputado federal Fábio Trad (psd) criticou o que chamou de “banalização da vida”, referindo-se a assassinatos que vem acontecendo em Mato Grosso do Sul e no País por motivos fúteis, como o roubo de R$ 200 em uma loja de materiais de construção na Capital. Na última quarta-feira (23), o policial militar Valdir Antunes de Oliveira, de 41 anos, morreu após ser baleado durante assalto ao estabelecimento comercial no bairro Oliveira, saída para Sidrolândia. Três bandidos chegaram na loja, anunciaram o assalto e balearam o policial e fugiram com a arma do agente e o dinheiro. Valdir foi o quinto policial assassinato este ano no Estado. Para Fábio Trad, é lamentável que haja essa “banalização dos crimes contra a pessoa, com vida humana se reduzindo a simples obstáculo a ser removido para que a engrenagem do crime siga funcionando”. Diante da brutalidade, considera que os poderes públicos e a sociedade precisam reagir. “Mobilizar corações e mentes, sociedade civil, academia e organizações independentes é o primeiro e urgente passo para estancar essa selvageria”, apontou o parlamentar sul-mato-grossense. Em pronunciamentos realizados na Câmara Federal, durante seu mandato, o deputado Fábio Trad tem demonstrado preocupação com a violência. As estatísticas sobre a chamada violência homicida no Brasil, para ele, são estarrecedoras. Alguns números, conforme o deputado, dão contornos a essa tragédia continuada, como o relatório sobre o Peso Mundial da Violência Armada, demonstrando que, entre os anos de 2004 e 2007, os doze maiores conflitos armados, provocados por disputas territoriais, guerras civis e movimentos libertários, em diferentes partes do mundo, mataram 169.574 pessoas, enquanto no mesmo período 192.804 pessoas foram assassinadas no Brasil. Citou ainda que entre 1992 e 2009, de acordo com o IBGE, a taxa de homicídios no Brasil cresceu 41%, com a média de assassinatos saltando de 19,2 para 27,1 mortes em cada cem mil habitantes. Nos últimos trinta anos, houve aumento de 83,1% na taxa de homicídios no Brasil. Ainda que essas estatísticas, além dos muitos estudos acadêmicos e censos governamentais, na opinião do deputado, delineiem um obsceno cenário da violência homicida no Brasil, a percepção é de que o poder público, em todas as esferas e instâncias, e mesmo a sociedade civil – com meritórias exceções – parecem incapazes de articular políticas públicas de amplo espectro e caráter permanente, que possam consubstanciar o que seria um ‘arco de defesa e contenção’ contra a brutal expansão dos assassinatos. Embora reconheça o empenho da União e dos Estados no combate à criminalidade homicida, Fábio considera que muitas vezes há desarticulação, sobreposição de ações e até antagonismos que as forças do Estado, que agem com o improviso próprio de guerrilhas remotas. Enquanto isso, avalia o parlamentar, o crescimento do número de assassinatos, em escala de guerra civil, consuma-se em barbárie que há muito transpôs as áreas metropolitanas potencialmente “letais”, “democratizando” o bestial desrespeito à vida, expandindo para todo o país o pânico psicossocial que expressa a soma do medo de cada indivíduo de ser assassinado. Pesquisa realizada pelo IPEA, em 2010, em sistema amostragem nacional, apontou que 79% dos brasileiros têm muito medo de serem assassinados; 18,8% têm pouco medo, e só 10,2% não têm medo de ser vítima de homicídio. “Ora, se em um país que não vive qualquer tipo de guerra interna e, muito menos, ocupação inimiga, oito de cada dez habitantes temem ser assassinados, há algo de profundamente errado”, constatou o parlamentar. Ainda que as estatísticas sirvam para estimar a escalada brutal do número de homicídios no Brasil – mais de um milhão de assassinatos em poucos mais de trinta anos – não se prestam, na opinião de Fábio Trad, para identificar, ainda que de forma superficial, as causas dessa matança continuada. “Melhor será tentar buscar tais causas no delicado terreno da deterioração dos valores sociais, do afrouxamento das regras morais de convivência e, em última instância, talvez, na prolongada anomia do Estado”, sugeriu. Com olhar atento o atual cenário, o deputado peemedebista considera que a banalização da vida está entre as principais causas da escalada da violência homicida no Brasil. Lembra, à propósito, que Jurandir Costa Freire aponta, com muita propriedade, para a grave crise de transcendência que vitima a sociedade contemporânea, observando que a vida perdeu importância como referência de valores representados pela religião, pela política e pela moral privada familiar. Esses princípios, diz Freire, conferiam, no passado, um valor absoluto, inviolável, à vida, enquanto hoje o valor e o sentido da vida são atribuídos pelos indivíduos, por critérios pessoais que tantas vezes tem na violência a única “referência” – perversa e imoral, por certo. “De todo modo, buscar entender as causas transcendentes dessa selvageria, que se consuma no ataque irremediável à vida em dimensão ‘epidêmica’, pode não estancar no curto prazo a escalada de brutalidade, mas certamente contribuirá para que o conjunto da sociedade repense valores e padrões, hoje manipulados como moeda de troca nos mercados das projeções artificiais, da fama momentânea e do lucro a qualquer preço”, afirmou Fábio Trad. “Nada justifica a escalada da violência homicida que torna o Brasil um país selvagem. Buscar entender as origens desse trágico mal, contudo, pode ser o primeiro e fundamental antídoto para extirpá-lo”, concluiu.