Cessar-fogo entre Israel e o Hamas entra em vigor, após mais de 240 mortes

BERLIM e JERUSALÉM — Um cessar-fogo entre Israel e o Hamas começou oficialmente às 2h de sexta-feira (20h de quinta-feira no horário de Brasília). O acerto foi confirmado pelo grupo islamista que governa a Faixa de Gaza e por integrantes do governo israelense na noite de hoje, meio da tarde no Brasil.

Após dias de pressão internacional e com a mediação do Egito, o cessar-fogo foi aprovado pelo Gabinete de Segurança do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O confronto de 11 dias deixou 232 palestinos mortos em Gaza, incluindo 65 crianças e 39 mulheres, e 12 mortos em Israel, sendo duas crianças, por foguetes lançados pelo Hamas.

Segundo a Presidência egípcia, o país enviará delegações a Israel, Faixa de Gaza e Cisjordânia para acompanhar a implementação do acordo.

O estopim para a maior onda de violência entre os dois lados desde que Israel invadiu Gaza, em 2014, foi a repressão aos protestos de palestinos contra o despejo de quatro famílias do bairro de Sheikh Jarrah, no setor árabe de Jerusalém, área ocupada por Israel em 1967. Na repressão, forças de segurança israelenses invadiram a Mesquita de al-Aqsa, considerado o terceiro lugar mais sagrado do Islã.

Segundo o comunicado do Gabinete do premier Netanyahu, a proposta aceita foi feita pelo Egito, mencionando um cessar-fogo “mútuo”, e “sem quaisquer condições prévias” — ao mesmo tempo, os textos do premier e do Gabinete de Segurança declaram que “a realidade no terreno determinará o futuro da operação”. O ministro da Defesa, Benny Gantz, afirmou ter conversado com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e agradeceu “pelo apoio americano a Israel em suas ações para proteger seus cidadãos”.

Já o Hamas declarou que “vai cumprir esse acordo enquanto a Ocupação [Israel] fizer o mesmo”, como afirmou Taher al-Nono, chefe de comunicação do líder do grupo, Ismail Haniyeh, à Reuters. Mais cedo, o enviado da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland, foi ao Qatar para se reunir com Haniyeh, que vive exilado no país do Golfo Pérsico.

Osama Hamdan, integrante da cúpula política do Hamas, afirmou ter recebido “garantias de que as agressões à Mesquita do Domo da Rocha e a Sheikh Jarrah cessariam”. Em entrevista à TV Mayadeen, ligada ao grupo xiita libanês Hezbollah, ele não detalhou quais garantias seriam essas ou como seriam implementadas.

Ao Haaretz, um integrante do governo de Israel chamou a declaração sobre garantias de “mentira completa”.

Em um discurso televisionado, o porta-voz da ala militar do Hamas, Abu Ubaida, ameaçou lançar foguetes que alcançariam todo o território de Israel se as forças israelenses violassem a trégua ou atingissem Gaza antes da hora de implementação do cessar-fogo.

As bandeiras de Israel e da Palestina são hasteadas perto de Metula, na fronteira com o Líbano Foto: JALAA MAREY / AFP
As bandeiras de Israel e da Palestina são hasteadas perto de Metula, na fronteira com o Líbano Foto: JALAA MAREY / AFP

Nas primeiras declarações após o anúncio do acordo, o presidente americano Joe Biden manteve a linha adotada ao longo do conflito, reforçando o que vê como direito de Israel de se defender contra os ataques de mísseis do Hamas, e mencionou o papel do sistema de defesa Domo de Ferro, se comprometendo com seu futuro desenvolvimento.

Biden confirmou ter falado com Netanyahu seis vezes ao longo do conflito, além de manter contato com o presidente, palestino Mahmoud Abbas, e lamentou a perda de vidas civis, incluindo crianças, entre palestinos e israelenses. Ele defendeu a retomada das operações humanitárias em Gaza, mas que não seja usada de forma militar pelo Hamas — por fim, elogiou o papel do governo egípcio na resolução da crise.

Além do Egito, países da região, como a Jordânia e o Qatar, desempenharam papel importante no cessar-fogo, já que têm interlocução com o Hamas, organização considerada terrorista pela União Europeia e pelos EUA. Nesta quinta, o presidente americano Joe Biden conversou, por telefone, com o colega egípcio, o general Abdel Fattah al-Sisi, segundo comunicado da Casa Branca.

“Os dois líderes discutiram os esforços para conseguir um cessar-fogo e concordaram que suas equipes permaneceriam em constante comunicação para esse fim”, disse a nota. Sisi ainda falou por telefone com o secretário-geral da ONU, António Guterres, antes do anúncio do cessar-fogo.

Em uma publicação no Twitter, o chanceler britânico Dominic Raab afirmou que “todos os lados precisam trabalhar para tornar o cessar-fogo duradouro e pôr fim ao inaceitável ciclo de violência e perda de vidas civis”.

Apesar de várias indicações de que o cessar-fogo estava a caminho, os confrontos continuaram nesta quinta, quando bombardeios israelenses mataram mais cinco palestinos em Gaza, enquanto foguetes lançados pelo Hamas deixaram um soldado de Israel ferido.

Durante os 11 dias do confronto, o Hamas lançou mais de 4 mil foguetes, fabricados em Gaza, contra o território israelense. Embora o volume e o alcance dos foguetes tenha surpreendido, a maioria foi interceptada pelo Domo de Ferro, o sistema de defesa antimísseis israelense. Já Israel efetuou centenas de bombardeios a Gaza, destruindo áreas civis e ao menos quatro edifícios, dos dois quais abrigavam escritórios de veículos de comunicação como a agência americana AP e a rede al-Jazeera.

‘Inferno na terra’

Mais cedo, em um forte discurso na Assembleia Geral da ONU, que se reuniu em sessão extraordinária para discutir o conflito, Guterres voltara a pedir o fim imediato das hostilidades e afirmou que, “se há inferno na Terra, é a vida das crianças em Gaza”.

— Estou profundamente chocado com o contínuo bombardeio aéreo e de artilharia pelas Forças de Defesa de Israel em Gaza, que matou mais de 200 palestinos, incluindo cerca de 60 crianças —  disse. —  Os combates deixaram milhares de palestinos sem casa e forçaram mais de 50 mil pessoas a procurar abrigo em escolas, mesquitas e outros lugares com pouco acesso a água, comida, higiene ou serviços de saúde.

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O Conselho de Direitos Humanos da ONU anunciou  uma reunião especial sobre a situação na semana que vem. Prevista para 27 de maio, a reunião foi solicitada pelo Paquistão, país coordenador da Organização para a Cooperação Islâmica, e pelas autoridades palestinas, que reuniram assinaturas suficientes dos 47 países-membros do organismo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse estimar que serão necessários US$ 7 milhões ao longo de seis meses para responder ao agravamento da crise de saúde na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza. Em um “apelo de emergência” lançado nesta quinta, a OMS pediu ajuda para o envio de suprimentos médicos essenciais para os territórios palestinos.

Segundo a OMS, é urgente o envio de material para cirurgias de traumatologia, assim como para combater a pandemia da Covid-19. A organização internacional também recomendou o envio de pessoal médico para atender ao grande número de feridos e ajuda ao setor de saúde mental.

FonteGlobo