Carlos Menem morreu como símbolo da Argentina dos anos 90. Governante argentino entre os anos de 1989 e 1999, o ex-presidente colecionou polêmicas. Nenhuma delas é mais importante para os fãs de automóveis quanto o caso da famosa Ferrari 348tb.
O modelo pertencia ao político, mas sua origem era duvidosa. O esportivo foi dado de presente por Massimo Lago, empresário italiano que tinha um grande interesse em entrar no mercado argentino. Um regalito.
As leis que passaram a considerar esse tipo de presentinho como algo antiético e vedado aos funcionários públicos entraram em vigor em 1999. Justamente o ano em que Menem saiu do poder, vejam só.
O ex-presidente não tinha vergonha de dizer que a Ferrari “es mía, mía”. Na mesma época, o presidente Fernando Collor dirigiu uma F40 e logo o boato de que ele teria recebido o superesportivo de presente surgiu. Culpa do Menem? Seja como for, foi apenas boato. O carro que ajudou a depor ele foi bem mais simples: uma Elba, perua também fabricada pelo grupo Fiat.
O motivo de orgulho e a cara de pau eram até curiosos diante da história do modelo 348. Substituta da 328, a Ferrari era bem menos querida que suas antecessoras. O próprio presidente da marca, Luca di Montezemolo, classificou o carro de uma maneira nada elogiosa.
A crítica contundente foi motivada por um encontro com um Golf GTI. O executivo emparelhou em um semáforo ao lado do Volkswagen. Ao acelerar junto com ele, levou um pau do hot hatch nos primeiros 30 a 40 metros. Ele não se fez de rogado e chamou a 348 de uma “macchina de merda” na apresentação da 458 Italia.
Está certo que a percepção sobre a máquina melhorou com o tempo, embora ela seja atrapalhada pelo fato do carro ter sido substituído por uma das melhores Ferraris da história, a ultra valorizada 355. A verdade é que a sucessora ficou tão cara que alguns fãs passaram a comprar a 348 como uma alternativa viável.
A 348 foi ofendida pelo próprio presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo — Foto: Divulgação
Para o mercado argentino da época, a Ferrari era um sonho. Foi o segundo carro da marca a desembarcar no país.
A sigla tb significa que é uma transversalle berlinetta, formato de carroceria que indica que o carro é um cupê. O motor V8 3.4 entrega 300 cv a 7.200 rpm e 32,9 kgfm de torque a 4.200 giros. O câmbio é manual de cinco marchas. A aceleração de zero a 100 km/h anunciada é de 5,6 segundos, um número que impressiona tanto quanto os 275 km/h de velocidade final.
Ao ver os números de desempenho, três hipóteses surgem: Montezemolo não deu o melhor de si; a Ferrari foi muito otimista com os dados e, claro, esse GTI poderia estar preparado. As três juntas? Talvez.
Cabine é pura nostalgia e ostenta a tradicional grelha metálica do câmbio — Foto: Divulgação
Menem aproveitou todo esse desempenho em uma famosa “corrida” entre Buenos Aires e Pinamar a mais de 200 km/h. Não respeitou os limites de velocidade e tampouco pagou pedágios. E teria dito que fez isso mesmo, mas que era o presidente. Então tá.
Colecionadora de escândalos, a Ferrari foi leiloada publicamente e arrematada por Juan Nápoli, investidor da bolsa. Segundo o jornal Clarín, a 348tb teria sido vendida para Héctor Méndez, poderoso industrial argentino. Já era um dos automóveis mais clássicos do país. Imagine após a morte do Menem.