Não faltou nada. Nem a “cereja do bolo”. Com a conquista do Mundial de Clubes, o Bayern de Munique ganhou todas as seis competições que disputou relativas à temporada 2019/2020. Um dos maiores feitos da história do clube, e uma façanha poucas vezes alcançada no futebol internacional. Na verdade, só uma vez: pelo Barcelona de 2009.
O ge contabilizou apenas os dados pelas competições vencidas dentro do mesmo ano. O Mundial de Clubes de agora entra na lista porque ele deveria ter sido disputado em 2020, mas ficou para 2021 por causa do impacto da pandemia de Covid-19 no calendário.
Durante a última semana, jogadores e comissão técnica do Bayern ressaltaram várias vezes o objetivo de repetir o sucesso daquele Barça. Confirmado no Catar o tetracampeonato mundial do Gigante da Baviera, a comparação entre um e outro é quase que inevitável.
O Barcelona de 2008/09 estava na primeira temporada sob o comando do então promissor técnico Pep Guardiola. O time passava por um momento de reconstrução. Mesmo assim, encantou o mundo e venceu o Campeonato Espanhol, a Copa do Rei, a Champions League, a Supercopa da Espanha, a Supercopa da Europa e o Mundial de Clubes.
– Acho que não dá para comparar. O Bayern é um timaço, uma máquina. Agora o Barcelona de 2009, o Barcelona do Guardiola, de maneira geral, era um time épico. Aquilo era arte, era como ir no museu ver uma exposição super aguardada. Algo de outro mundo. O Bayern é muito competitivo, excepcional, mas é um time “esportivo”. São dois estilos completamente diferentes. Seria uma partida épica – analisou o comentarista Lédio Carmona, do SporTV.
Deixando de lado – com todo o respeito – os títulos e o estilo de jogo do Barcelona do ciclo 2008-2012, e analisando apenas as estatísticas relativas às competições encerradas em 2009, o Bayern de Munique de 2020 tem números melhores. O time alemão venceu mais jogos proporcionalmente (85,4% contra 70%), perdeu menos (quatro contra sete derrotas), e tem média de gols maior (3,03 contra 2,46).
As trajetórias nas ligas e copas nacionais
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Barcelona goleou o Real Madrid por 6 a 2 pelo Campeonato Espanhol — Foto: Getty Images
O Barcelona faturou o Campeonato Espanhol de 2008/09 com a seguinte campanha: 27 vitórias, seis empates e cinco derrotas em 38 jogos. Ou seja, 87 pontos conquistados (76,3% de aproveitamento do total), nove a mais do que o vice Real Madrid. Aliás, o rival foi batido por 6 a 2 no confronto direto na reta final. Além disso, o Barça teve 105 gols a favor e apenas 35 contra. A festa se deu com três rodadas de antecedência.
Já o Bayern de Munique foi campeão da Bundesliga em 2019/20 com 26 vitórias, quatro empates e quatro derrotas em 34 rodadas, 100 gols a favor e 32 contra. Aproveitamento de 80% dos pontos. O Bayern venceu o Campeonato Alemão com duas rodadas de antecedência e terminou com 13 pontos a mais do que o Borussia Dortmund (82 a 69).
Barcelona e Bayern nas ligas nacionais
Jogos | Vitórias | Empates | Derrotas | Gols pró | Gols contra | |
Barcelona – 2008/09 | 38 | 27 | 6 | 5 | 105 | 35 |
Bayern – 2019/20 | 34 | 26 | 4 | 4 | 100 | 32 |
Para ficar com o título da Copa do Rei, o Barça teve de superar o Benidorn, Atlético de Madrid, Espanyol, Mallorca e na final o Athletic Bilbao – goleada por 4 a 1. Nessa competição, o time teve sete vitórias e dois empates em nove jogos, com 17 gols pró e seis contra.
Por sua vez, o Bayern teve 100% de aproveitamento na última Copa da Alemanha, com seis triunfos em seis partidas, 16 gols marcados e oito sofridos. Enfrentou o Cottbus, Bochum, Hoffenheim, Schalke 04, Eintracht Frankfurt e o Bayern Leverkusen na decisão.
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Bayern de Munique foi campeão da Copa da Alemanha de 2019/20 — Foto: Getty Images
Histórias bem diferentes na Champions
O Barcelona não era o favorito para a Liga dos Campeões de 2008/09. Longe disso. O time havia sido apenas o terceiro colocado na liga espanhola na temporada anterior. Assim não começou na fase de grupos e precisou passar antes pelo Wisla Kraków, da Polônia.
A chave era teoricamente fácil, com Sporting, Basel e Shakhtar Donetsk. O Barça ficou em primeiro lugar, mas depois só pegou pedreiras. Nas oitavas, o Lyon heptacampeão francês. Nas quartas, o próprio Bayern.
Nas semifinais, o Chelsea, batido graças ao gol histórico de Iniesta. E na finalíssima, Messi botou Cristiano Ronaldo “no bolso” e decidiu o jogão no Estádio Olímpico de Roma. Título especial em cima do Manchester United, então campeão da Champions.
– O que fez daquele Barcelona especial? Basicamente: Pep Guardiola e a sua comissão técnica. Ele resgatou a nossa fome por vitórias, organizou e inovou na parte tática, fomentando a recuperação rápida da bola asfixiando os adversários, e criou o ambiente favorável ao relacionamento entre comissão técnica e jogadores – comentou o ex-jogador Sylvinho, hoje treinador, e integrante daquele Barcelona.
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Sylvinho, Messi, Henry e Iniesta no abraço do Barcelona na final da Champions de 2009 — Foto: Getty Images
E o que dizer da campanha do Bayern de Munique na última Liga dos Campeões? Foi o primeiro clube na história a ser campeão europeu com 100% de aproveitamento, com 11 vitórias em 11 jogos. O time alemão teve média de quase quatro gols por partida. Ao todo foram 43, contra só oito sofridos.
A equipe fez a melhor campanha da fase de grupos, com 18 pontos. Balançou as redes 24 vezes e só foi vazado cinco. Despachou o Chelsea nas oitavas de final com placar agregado de 7 a 1.
Já na “Super Champions”, com confrontos únicos em Lisboa, destruiu o Barcelona por 8 a 2, venceu o Lyon por 3 a 0 e derrotou o Paris Saint-Germain de Neymar na decisão, por um a zero.
Desafios nas Supercopas e Mundiais
Se por um lado o Barcelona foi campeão da Supercopa da Espanha de 2009 de forma tranquila, com vitórias por 2 a 1 e 3 a 0 sobre o Athletic Bilbao, por outro o Bayern de Munique teve dificuldades para superar o Borussia Dortmund no respectivo torneio na Alemanha. O suado gol do título, marcado por Kimmich, representou bem o triunfo por 3 a 2.
Curiosamente, os dois times sofreram para conquistar o quinto título do ano, a Supercopa da Europa. Ambos venceram na prorrogação: o Barça bateu o Shakhtar por 1 a 0, e o Bayern venceu o Sevilla por 2 a 1.
Mas dá para dizer que a situação mais complicada foi a do Barcelona no Mundial de 2009, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Após passar pelo Atalante, do México, o Barça encarou o Estudiantes, em uma das decisões mais disputadas da história. O time argentino jogou muito bem, mas sofreu a virada por 2 a 1 na prorrogação – sendo que o empate do Barça saiu quase no fim do segundo tempo (veja abaixo).
É verdade que o Bayern de Munique não brilhou como se esperava no Mundial de 2020, que acabou sendo realizado em 2021. Mas apesar dos desfalques de Jerôme Boateng e Thomas Müller na final, confirmou o seu favoritismo e deixou o Catar sem sofrer gols e marcou três. Somando os jogos contra o Al Ahly e o Tigres, a equipe produziu 42 finalizações, sendo 16 no alvo, segundo dados da Fifa.
– No meu ponto de vista, a característica mais marcante desse Bayern é a intensidade de jogo. Um time que tem intensidade no ataque e quando perde a bola. É um time que não depende só de um jogador. Tem o melhor do mundo, o Lewandowski, mas não depende só dele, joga em conjunto. Todos os setores são muito bem organizados – analisou o ex-jogador Zé Roberto, que defendeu o Bayern entre 2002 e 2006.
Aquele ano de 2009 foi o primeiro em que Lionel Messi terminou eleito o melhor jogador do mundo, ainda com 22 anos. Ele já carregava a camisa 10 do Barça, após a saída de Ronaldinho Gaúcho.
O argentino esteve muito bem acompanhado naquela sequência de títulos por craques como Xavi, Iniesta e Henry, além do recém-chegado Daniel Alves e os promissores Piqué e Busquets. Todos capitaneados pelo espanhol Puyol. Eto’o foi campeão da Champions, mas despediu-se antes do Mundial. Em seu lugar chegou o sueco Ibrahimovic.
O Bayern de Munique versão 2020 também tem um melhor do mundo para chamar de seu: o atacante Robert Lewandowski. Peças relevantes foram embora ao longo do ano, como Thiago Alcântara e Philipe Coutinho. Mas dos 11 titulares na conquista da Champions em agosto, oito se repetiram na final do Mundial de Clubes. Nomes de peso como Neuer, Davies, Alaba e Kimmich.
Inegáveis também as contribuições dos treinadores para essas campanhas de seis conquistas seguidas. Auxiliar técnico da seleção alemã por oito anos, Hansi Flick assumiu o Bayern em novembro de 2019. Desde então foram 37 vitórias, um empate e duas derrotas. O próprio perfil do clube em inglês tirou uma onda com o seu “poder”.
Guardiola também soube aproveitar a oportunidade dada em 2009 para assumir o time principal do Barcelona. Ele se tornou o técnico mais jovem a vencer a Champions. Seu trabalho na Catalunha quebrou paradigmas no futebol. Depois de sair do clube e tirar um período sabático, Pep assumiu justamente o time alemão. E agora, anos depois, ele sugere um tira-teima entre aquele Barça que fez história, contra esse Bayern de Munique que ainda faz a dele.
– Parabéns à toda família Bayern por esse incrível sucesso. Por ser campeão do mundo e conquistar seis títulos em seis. Estou muito orgulhoso de todos por esse feito incrível. Mas digo ao Hansi Flick que são os segundos a fazer isso, antes tinha sido o Barcelona. Então que tal se eu chamar Messi e companhia para disputarmos o sétimo? Só me dizer a hora e o lugar – brincou Guardiola, aos canais oficiais do Bayern.
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Bayern de Munique conquistou o Mundial de Clubes ao vencer o Tigres, do México — Foto: Getty Images