Danilo conta bastidores do “mundo Flamengo”, diz que Brasil limita jogadores e opina: “Rede social é um desastre”

Por Cahê Mota, Eric Faria e Luiza Sá — Rio de Janeiro

Quando senta para dar entrevistas, Danilo quer falar sobre assuntos que considera significativos. Defensor do pensamento de que jogadores de futebol querem, sim, tratar de temas mais sensíveis e importantes da sociedade, o zagueiro abriu o coração sobre o choque com o “mundo Flamengo”, revelou que está fazendo faculdade de jornalismo, opinou sobre o momento de Neymar e admitiu que envelheceu alguns anos a mais nesse último ciclo de entrega para a seleção brasileira.

Ao ge, em papo de quase uma hora e meia de duração no Ninho do Urubu, o jogador é enfático ao dizer que 2026 será o último ano de carreira. Mesmo assim, Danilo admite que ainda não está em paz com a ideia.

Danilo avalia que é possível sentir prazer dentro de um ambiente de pressão como o do Flamengo, mas avalia ser necessário encontrar equilíbrio para isso. Mesmo com as cobranças e a intensidade no clube, o jogador não se arrepende da decisão de retornar ao Brasil após 13 anos. Ao refletir sobre a sociedade atual, ele critica o papel das redes sociais.

— Rede social é um desastre. Eu tenho rede social, faço e muitas vezes me pergunto o porquê. Entendo que é um canal importante de comunicação, especialmente com o nosso torcedor. Para dar a nossa opinião, se posicionar. Hoje em dia, com todo o respeito, não precisamos do trabalho de vocês para falarmos o que a gente pensa. Fazer um vídeo, desmentir uma situação ou outra. Mas é um ambiente cruel. Todo mundo tem voz, é sabedor de tudo, as coisas voam numa velocidade incrível, as comparações nem se fala. É um mundo de comparações.

Ficha técnica

 

  • Nome: Danilo Luiz da Silva
  • Idade: 34 anos
  • Profissão: jogador de futebol
  • Carreira no futebol: América-MG, Santos, Porto, Real Madrid, Manchester City, Juventus e Flamengo
  • Títulos: Série C do Brasileiro (2009), Campeonato Paulista (2011), Libertadores (2011), Campeonato Português (2011-12 e 2012-13), Champions League (2015-16 e 2016-17), Supercopa da UEFA (2016), Mundial de Clubes (2016), Campeonato Espanhol (2016-17), Campeonato Inglês (2017-18 e 2018-19), Copa da Liga Inglesa (2017-18 e 2018-19), Copa da Inglaterra (2018-19), Campeonato Italiano (2019-20), Supercopa Italiana (2020), Copa da Itália (2020-21 e 2023-24), Supercopa do Brasil (2025), Campeonato Carioca (2025).

 

Danilo no Abre Aspas — Foto: André Durão

Danilo no Abre Aspas — Foto: André Durão

Danilo foge de um estereótipo que ele mesmo diz não ser mais uma regra dentro do futebol. Foi no início da pandemia da Covid-19, quando o Brasil ainda não havia registrado casos, que uma fantasia de carnaval do goleiro Bruno o despertou para a necessidade de agir. Dali, nasceu a Voz Futura, uma produtora de conteúdo montada para contar “histórias incríveis”, como define o jogador.

O zagueiro defende que muitos atletas gostariam de se posicionar sobre temas relevantes, mas enfrentam barreiras. Para ele, a virada de chave foi o nascimento do primeiro filho, Miguel. Mesmo sem saber ainda o que quer fazer quando não estiver mais no futebol, Danilo defende: jogadores podem ser múltiplos.

— Eu acredito que muita gente do futebol gosta de tratar de outros temas, mas tem um pouco de insegurança. O futebol é cruel, se você fala de outro tema que as pessoas não concordam, você vai tomar na cabeça e é mais fácil se calar, não falar nada, ficar quieto. Também é um jeito de viver. O nascimento do meu primeiro filho, o Miguel, que tem dez anos, foi o ponto-chave. É um moleque que vai saber que o pai jogou nos melhores clubes do mundo, na Seleção tantos anos, no Flamengo, é incrível…. Mas beleza, isso ele coloca no Google, no YouTube e vai ver. E enquanto ser humano, enquanto essência, quais sensações ele vai ter? E isso me fez ter um pouco de pressa para entender realmente as coisas importantes da vida para deixar como legado, principalmente para os meus filhos. Nunca fui um cara do videogame, essas coisas, e cada um tem suas escolhas. Então, eu ficava de tarde e o que ia fazer? Dormir? Tive necessidade de consumir coisas além do futebol. Foi assim.

ge: Como lidar com a ansiedade para a grande final da Libertadores? Dá para extravasar ou a cada dia que passa ficar ainda maior a expectativa, mesmo com a experiência de tantos grandes jogos?

Danilo: — É especial, sem dúvida nenhuma. Estava fazendo o media day e as pessoas fazem a pergunta de como é viver um momento desses pelo time do coração. Eu digo que não sei explicar, vou saber só quando eu viver. O sonho de jogar no Flamengo ficou um pouco adormecido durante um tempo e eu achei que não fosse acontecer. Quando tiver a oportunidade, isso aflorou outra vez e agora vou jogar a final da Libertadores e não sei explicar. Na semifinal, fui um dos mais exaltados na comemoração. Não sei mesmo explicar.

Você conseguiu viver essas últimas três finais como torcedor?

— Não, não consegui. Talvez aquela de 2019 do gol do Gabigol no final, foi a que eu acompanhei mais de perto. Engraçado que eu estava nas mensagens com a família e amigos e estávamos todos desacreditados. Estava em Turim, e me lembro que quando fez o primeiro gol ficou aquela sensação de “Fez só um, beleza”, e de repente veio o segundo e foi uma loucura. A gente se ligou e foi incrível. Amigos que eram torcedores de Botafogo, Fluminense, estavam secando para caramba e já começamos a zoar pelas mensagens. Foi bacana. Nesse dia, eu lembro que teve jogo da Juventus e eu não joguei por conta de uma lesão no tornozelo. Fui ao jogo no estádio e voltei para casa rapidão para assistir.

— Durante a viagem, eu até estava comentando com a galera nos dias precedentes à semifinal. São tantos jogos e viagens, que em determinado momento deixa de ser especial. Você vai pegar o ônibus, vai para o aeroporto e fica parecendo uma viagem só. E eu comentei com a galera que é semifinal da Libertadores, passando era uma final e eu disse: “Eu não sei vocês, mas eu quero muito. É algo muito grandioso”. Eu já ganhei com o Santos, mas é outro momento de vida, outra situação. Quando foi chegando mais perto, sentimos o quanto era especial, mas realmente foi um momento muito especial.

Você disse que era um sonho que ficou adormecido e agora vive essa realização de defender o clube do coração. É possível ter prazer em um ambiente de tanta pressão?

— É possível. É algo que você precisa estar muito seguro de si, do que é capaz de produzir, de entregar, das mais-valias e que esteja atento ao que realmente é importante. O Flamengo é um mundo à parte ao que é o futebol de maneira geral. O Flamengo é emoção, é uma questão de sentimento e muitas vezes pouca razão. É necessário encontrar um equilíbrio nisso tudo. Eu te digo que para mim cada momento, vocês puderam perceber que a molecada da base passa aqui para ir treinar, encontro com eles todos os dias, acho o máximo. Eu enfrentei o Flamengo na base, ficava olhando e pensava: “Caraca, se um dia eu jogar no Flamengo…”. Muitas vezes com o Tupynambás, de Juiz de Fora, com o América-MG, e eu olhava os detalhes da camisa, as chuteiras, e vejo a molecadinha passando aqui sem imaginar o tamanho do privilégio que eles já têm por começar essa trajetória de buscar ser um atleta profissional jogando no Flamengo.

É um mundo com uma exposição muito grande, todo mundo é fiscal de tudo, mas ao mesmo tempo você quis estar aqui. Essas cobranças, esse ambiente em algum momento te fez repensar algo?

FonteGE

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