Pec dos Bandidos!!!!!

Pressão nas redes leva deputados de esquerda e direita a recuarem e até pedirem desculpas por voto na PEC da Blindagem

Por 

Lucas Altino

 e 

Luis Felipe Azevedo

 — Rio de Janeiro

RESUMO

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A pressão nas redes sociais contra a PEC da Blindagem, aprovada na terça-feira pela Câmara dos Deputados, levou parlamentares que votaram a favor da medida, tanto da direita quanto da esquerda, a recuarem e, até mesmo, pedirem desculpas pelo posicionamento. O movimento digital, que mobilizou desde artistas até entidades da sociedade civil, também provocou uma incomum vitória da esquerda nas plataformas, segundo levantamento da consultoria Bites feito a pedido do GLOBO.

As justificativas pelo voto favorável à proposta foram diversas, de ameaças de retaliações internas a “sacrifícios” para tentar evitar a votação da anistia. A deputada Silvye Alves (União-GO) disse que vai deixar seu partido devido à polêmica da votação. Em um vídeo publicado no Instagram, a parlamentar disse que, na primeira votação do tema, se posicionou contra a PEC, mas alegou ter sofrido ameaças de “pessoas influentes” para mudar de posição.

— Votei contra, às 19h. A partir desse momento, comecei a receber muitas ligações de pessoas influentes do Congresso, se é que vocês me entendem. Ligaram dizendo que eu sofreria retaliações — disse a deputada, que pediu desculpas aos eleitores. — Eu fui covarde, cedi à pressão, e por volta de quase 23h mudei o voto.

Já o deputado Merlong Solano (PT-PI) disse que seu voto favorável tinha o objetivo de “ajudar a impedir o avanço da anistia e viabilizar a votação de pautas importantes para o povo brasileiro, como a isenção do Imposto de Renda, a MP do Gás do Povo, a taxação das casas de apostas e dos super-ricos, além do novo Plano Nacional de Educação”.

Mas, em uma nota publicada nas suas redes sociais, o petista admitiu que “esse esforço não surtiu efeito” e que o suposto acordo político foi rompido e afirmou que, por isso, assinou como coautor, junto com o deputado Pedro Campos (PSB-PE), um mandado de segurança protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a anulação da votação.

Estratégia falha

 

Irmão do prefeito de Recife, João Campos (PSB), o deputado pernambucano também foi às redes se explicar. Pedro alegou que, diante do avanço da pauta na Câmara, o campo progressista optou por “discutir o texto da PEC e tentar tirar os maiores absurdos que ali estavam contidos e buscar um caminho para barrar a anistia e fazer avançar as pautas populares”, conforme explicou em vídeo publicado em seu perfil.

O deputado Thiago de Joaldo (PP-SE) foi outro que afirmou que se arrependeu e mudou de posição após receber comentários e análises:

— Nunca busquei proteger criminosos nem dar salvo-conduto para prática de qualquer outro crime. A partir daí, comecei a receber comentários de especialistas, me atentar à imprensa, sobretudo ouvir os comentários. Reconheço que falhei, peço desculpas e trabalharei para corrigir.

O movimento dos parlamentares tem relação direta com o termômetro das redes. Um levantamento da Bites mostra que, desde terça-feira, a PEC da Blindagem gerou quase 1,6 milhão de menções. A maior parte deste volume veio da plataforma X. A análise mostra que a discussão sobre o tema foi dominada pela esquerda, porém sem tanto engajamento de perfis que não acompanham política, como aconteceu na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ecos digitais — Foto: Editoria de Arte
Ecos digitais — Foto: Editoria de Arte

Desde quarta-feira, dia seguinte à votação, o volume de menções diminuiu. A Bites aponta que há poucos sinais de que o tema tenha saído da bolha, o que pode ter ocorrido por uma sobreposição da pauta com a aprovação da urgência da tramitação do projeto sobre a anistia.

Classe artística

 

A mobilização contrária ao projeto também mobilizou atores e cantores, como Anitta e Caetano Veloso. O último chamou a proposta de “PEC da Bandidagem” e defendeu a realização de manifestações populares contra a iniciativa.

Um levantamento da consultoria Arquimedes aponta que o campo progressista representou 89% dos perfis que abordaram a PEC e se somou a um grupo de direita não bolsonarista (4% do total), também crítico ao texto e formado principalmente por simpatizantes do MBL. Já os bolsonaristas representaram apenas 7% do debate e buscaram justificar a necessidade de acordo para votar uma anistia.